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quarta-feira, 31 de julho de 2024

A ILUSÃO DOS TRINTA ANOS (CONTO)

O final do mês nem sempre é aguardado. As dificuldades do dia-a-dia o leva a chegar mais rápido do que de costume. Outra coisa que não se comemora na vida adulta é a data do aniversário. Seja porque não tem mais graça ganhar bolos ou presentes, seja pelo fato de estarmos envelhecendo e, com isto, mais próximo da morte. Outra ilusão são os papai-noéis. Com oito ou nove anos já se sabe que esta fantasia não existe, mas acreditamos ainda em outras.

Uma delas é a existência de um amor verdadeiro, que nos impele à busca da “alma gêmea”. Isto também é ilusão. O casamento sempre tem um problema. Não importe que você tente a felicidade nele, ele vai ser infeliz. Isso vale também para a felicidade que, na idade que eu estou, já é uma ilusão. O bom emprego após a faculdade era uma versão tosca do “pote de ouro no fim do arco-íris”, este arco-íris não sendo mais que um efeito em prisma que ocorre quando a água da chuva interage com a luz solar.

Outra coisa que a gente deixa de acreditar é em um mundo melhor. Preferimos acreditar em um mundo além-túmulo ou um céu que, para muitos, é ilusório. Acreditamos em partidos políticos, em nosso crescimento profissional, nas novas tecnologias que poderão combater o câncer ou até tentamos buscar nossa felicidade em onze jogadores que querem não mais do que colocar uma bola de couro entre duas balizas.

Colocamos nossa felicidade em piadas, em tragédias de outras pessoas ou eventos do “acaso”. Colocamos nossa fé em templos, deuses, figuras beatificadas e até em amuletos. E o que sobra? Apenas uma consolação caso ocorra alguma coisa ruim. E viver atrás de novas experiências, novas crenças e até de novas companhias começa ficar mais complicado quando se está indo para os trinta anos.

Parece que aquela moça que você queria está com outra pessoa, o emprego que era seu sonho não é mais do que uma fonte de estresse e a vida que você sonhou após a faculdade não é sua realidade.

Quando você percebe que no passar dos anos você acumulou tristezas, mágoas, desesperanças e uma série de problemas metabólicos vê o mundo de uma forma diferente. É por isso que os cinquentões veem a década de 70 como a melhor e os que vão fazer 30 anos acham os anos 2000 melhores. E uma geração sempre vai tachar a próxima de “geração” perdida ou qualquer outro adjetivo.

“No meu tempo era melhor”, diziam eles. “Vocês são fracos e não querem lutar”. Como se tudo que quiséssemos estivesse tudo ao alcance da mão e não precisássemos de nenhum trabalho na vida. Lógico que não somos a geração exemplar e temos uma facilidade em relação a certas coisas. Mas achar que conseguir um lar nos anos 70 é a mesma coisa que atualmente é estar desligado do futuro.

E, com o tempo, a gente vai ser os tios que falarão isso com a próxima geração. Por que somos os melhores? Não. Porque nós acreditávamos em uma vida melhor e não estamos em nossa melhor forma. Porque um dia tivemos as mesmas desilusões e a mesma mudança. Crescemos com ilusões e vivemos em uma realidade, cada um a sua maneira.

(31/07/2024)


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