Recentemente, uma entrevista da jogadora Marta evidenciou a diferença técnica e social entre os desportos masculinos e femininos. Enquanto Marta evidenciava que seu chute era indefensável para qualquer goleiro do futebol masculino, internautas colocaram defesas de goleiros do futebol masculino em arremates ainda melhores que o da Marta, evidenciando o argumento oposto.
Marta foi alvo de ironias nas redes sociais após as declarações sobre o chute supostamente indefensável.
Isso reacendeu discussões sobre a equivalência dos salários entre os jogadores do futebol masculino e feminino. Alguns argumentos para a disparidade entre os salários são os seguintes:
Futebol feminino é um esporte ainda em transição, sendo em grande parte amador ou semiprofissional.
Futebol feminino precisa ganhar espaço antes da equivalência de salários. O futebol feminino enfrenta uma forte concorrência com o futebol masculino até mesmo com outras modalidades. Porém o espaço está crescendo com o marketing e os salários estão em tendência de crescimento.
Futebol feminino é tecnicamente mediano, na maioria dos clubes. O futebol praticado por Marta &Cia é de alto nível, mas a maior parte dos clubes brasileiros ainda não tem um nível técnico profissional, com goleadas,¹ desigualdade entre os clubes com mais torcida e investimentos e os menos visados ou com menor torcida.
O futebol masculino entre 1940 e 60 tinha salários menores, especialmente porque ainda não era difundido. Ele só pôde ter salários maiores após os anos 60, quando houve uma diversificação do público no futebol. Um exemplo disso é que inexistia campeonatos nacionais (exceto os de seleções estaduais e o de 1937) até a conquista da primeira copa do mundo do Brasil (em 1958).²
A maioria dos jogadores profissionais do futebol masculino ganham um rendimento baixo, mesmo comparado com atletas do futebol feminino com o mesmo nível de habilidades técnicas. Na série C e inferiores, por exemplo a maioria dos jogadores ganham salários baixos, mesmo em comparação a jogadoras do futebol feminino com habilidade técnica semelhantes.³ Os jogadores destas ligas saem do Brasil para ter maiores oportunidades de salários mesmo em ligas de escalão mais baixos no futebol estrangeiro. Isso confronta o fato que os jogadores do futebol masculino em geral ganham mais que os atletas da modalidade feminina.
A maioria das mulheres não tem o interesse em se transformar em jogadoras e a maioria dos rapazes até os anos 60 também não tinham interesses no esporte⁴. Boa parte das mulheres não consomem futebol, especialmente o futebol feminino.
Há esportes cujos rendimentos masculinos e femininos são equivalentes, como vôlei, basquete e até com vantagem feminina, como em ginástica rítmica. Áreas como moda, atuação e escrita tem profissionais femininas que ganham mais do que os profissionais do sexo oposto.
Caso Auckland City: clube semiamador que disputou o mundial de clubes e chegou a empatar com um time de futebol profissional sul-americano. Não recebem salários, a não ser incentivos governamentais para jogar. O salário dos jogadores equivalem a trabalhadores em empresas brasileiras de empregos com nível médio de escolaridade (cerca de R$ 2000,00)⁵.
Isso ocorre também em muitos times de futebol masculino, mesmo em ligas com alto nível de competitividade. Ex: brasileirão Série C, campeonatos estaduais como o mineiro, o goiano, ou copa verde etc... Isso também ocorre com seleções, como San Marino⁶, na Europa, diversas seleções da Oceania, da Concacaf, da Ásia e de países com populações menores na África.
Por último, o futebol tem um público amplamente masculino, ou seja, quem consome futebol e o pratica ainda são homens⁷. A maior parte do engajamento em publicações de futebol são de homens, ou seja, o esporte tem mais praticantes e até mesmo torcedores do sexo masculino.
Conclusões: o futebol feminino tem um nível mediano de salário, que deve ser aumentado, porém ainda levará um certo tempo para desenvolver características que possam torná-los equivalentes ao futebol profissional masculino de alto nível. Mesmo o futebol masculino como um todo não tem equivalência de salário entre os jogadores de mesma posição, além dos jogadores de posições distintas e clubes distintos.
Por isso, é errônea a vinculação de um mesmo salário entre jogadores de alto nível do futebol já consolidado com o futebol feminino ainda em fase de consolidação. É necessário tempo, esforço e popularização da modalidade feminina para que esta tenha um patamar financeiro semelhante.
Por último, comparar salários entre Neymar e Marta esconde uma desigualdade de salários tanto entre os jogadores do próprio futebol masculino quanto entre jogadoras do futebol feminino. O futebol é apenas uma parte pequena da sociedade e a equivalência de salários seria mais eficiente se considerarmos setores essenciais ao desenvolvimento humano, como ciências, tecnologias e até mesmo o trabalho braçal, onde a desigualdade de gênero é mais impactante do que o futebol.
OBS: Nesta publicação não está inserida a opinião do autor, mas fatores que tornam desiguais os salários do futebol masculino e feminino e entre os jogadores da mesma modalidade.
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